sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Devassa do Marketing

Menina, tu jogaste teus amigos na fogueira. Foste ingênua ou fizeste de propósito? Amigos de muitos anos, amigos de trabalho. Tu foste infeliz ao comentar com um jornalista o que pensas do mundo midiático. Ah menina, há quantos anos trabalhas nesse meio? Cresceste diante dos olhos de um povo que acredita em tudo que vê, e destruíste a principal arma das indústrias que pensam durante meses em estratégias de marketing.

Onde estiveste com a cabeça ao contar que, para fazer propaganda, não precisa necessariamente gostar do produto em questão? Xuxa, pobre Xuxa. Declaraste que a loira não usa Monange, apenas empresta a imagem a campanha. Será? Talvez a loira faça realmente uso do produto, o que explicaria sua pele horrorosa. Xuxa tentou se defender e virou motivo de chacota. “Eu uso Monange, gosto mais daquele de tampinha azul”, explica a “Queen of the children”. Loura, tenha dó, tu nem sabes o nome da linha que possui a “tal tampinha azul”.

Ah, quantas pessoas não compraram Niely Gold acreditando nas palavras de Angélica e Luciano Huck? Sim, foste maquiavélica ao jogar pedra no imaginário deste povo, deste pobre povo. Foste cruel com seus amiguinhos. Agora todos se desdobram para provar que “usam” tais produtos. Sim, tu falaste apenas a verdade, mas a verdade não é a que movimenta o mercado publicitário. Já pensaste o quanto o número de vendas pode cair? Porque provocaste tal alvoroço na mídia? Agradeça a Deus, se nenhuma das marcas manifestarem vontade de lhe tomar alguns zeros da conta corrente. A cerveja Devassa trouxe de volta teu nome, tua imagem, e tu retribuíste com declarações, caras e bocas que desmentiam tudo que deveria ter sido passado ao público.

Ande! Faças algo inovador, pois agora estás à mercê das marcas, e dificilmente elas farão qualquer tipo de contrato contigo. Lances uma música, escrevas um livro, posai nua... Faças algo! Não, ninguém neste momento deseja associar tua imagem a qualquer produto, não neste momento. Tu queimaste a imagem dos amigos, das marcas, e a tua.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

“Se eu fechar os olhos agora...”


Por Paula Isis

“...Ainda posso sentir o sangue dela grudado nos meus dedos. E era assim: grudava nos meus dedos como tinha grudado nos louros cabelos dela, na testa alta, nas sobrancelhas arqueadas e nos cílios negros, nas pálpebras, na face, no pescoço, nos braços, na blusa branca rasgada e nos botões que não tinham sido arrancados, no sutiã cortado ao meio, no seio direito, na ponta do bico do seio direito” (pág.7).

Ambientada na década de 60, a história do livro “Se eu fechar os olhos agora” se passa na cidade de Valença, interior do Rio de Janeiro, terra natal do autor e jornalista Edney Silvestre. A obra é a primeira no qual Edney se aventura pela ficção e utiliza o romance para narrar os fatos.

A primeira impressão é de que o livro se trata de uma história infanto-juvenil, Uma vez que são apresentados os personagens principais, Eduardo e Paulo, têm apenas 12 anos de idade. Em um momento de lazer, eles matam aula para nadar no lago da cidade. “Na água, morna como o dia, nadaram um tempo. Depois o menino magro deitou-se na bóia, braços e pernas abertos, deixando-se flutuar. Ouvia ruídos do amigo que mergulhava, emergia, mergulhava de novo, tornava a vir à tona” (pág.14).

Em seguida, a história é alavancada. O leitor se vê envolvido em um enredo policial. Depois de correrem ao redor das margens do lago, os meninos tropeçam em um corpo. Não é um corpo qualquer, é de uma jovem, bonita, com marcas de violência sexual. Fora esfaqueada. Os garotos procuram a polícia para fazer o boletim de ocorrência, mas jamais imaginavam a confusão que estava por vir. Os policias acreditam que os garotos são suspeitos e, para tentarem descobrir o assassino e o que o motivou a tamanha atrocidade, os meninos decidem por investigar a vida da mulher que agora está morta. Apesar de ter duas crianças como protagonistas, a investigação ocupa grande parte do livro, a história se desenrola em um romance de formação.

Através da utilização da narrativa descritiva, o leitor percebe em pequenos detalhes um pouco do caráter da narrativa jornalística. A narrativa utilizada não se limita em descrever um ambiente, uma cena, mas, principalmente, os sentimentos dos personagens. Edney descreve de forma clara e ágil os emaranhados de pensamentos e situações, o que faz com que o leitor se deixe envolver, sem se perder ou ficar confuso.

Os detalhes são de extrema importância para que o leitor entenda cada protagonista da história, perante suas ações e reações diante do assassinato. A riqueza dos detalhes é importante para acompanhar os garotos no processo de amadurecimento, da perda da inocência e iniciação no mundo adulto, principalmente relacionado ao sexo.

É fácil perceber que as crianças são colocadas diante de situações em que o sexo é algo comum e obrigatório para o homem, embora proibido para a mulher. A sociedade da década de 60 era muito machista e isso é transmitido em alguns trechos da trama. “O Mauro, o Zé Paulo e eu vamos comer a empregada do Mauro; O Mauro já comeu. E avisou que ser não der para nós, conta aos pais que ela é uma puta. Quero comer aquele cu. Vou arrombar aquele cu” (pág 145). Em muitos trechos é percebido o pensamento masculino da época, onde a mulher é tida como dona de casa ou puta. Os personagens tiveram um amadurecimento precoce, principalmente se tratando do irmão mais velho de Paulo, Antônio, que tem apenas 16 anos, mas já se comporta como homem. Paulo se assusta um pouco com o jeito do irmão em lidar com as mulheres e a forma que ele se refere a elas, é quando ele se vê diante de um vocabulário mais chulo e vulgar, impróprio para sua idade.

A forma como o autor criou elos entre os personagens faz com que a trama fique instigante para o leitor. Apesar de ser novo no gênero, Edney fez com que o romance ficasse marcante e relevante. A leitura é agradável e de fácil entendimento, o que faz com que a obra, mesmo que de leitura fácil, seja de qualidade.